sábado, 11 de setembro de 2010


Acredito que errado é aquele que fala correto e não vive o que diz.
Caímos no conceito de inventar para se viver.
Partimos do principio que para se ter amigos, conhecidos e pessoas ao nosso lado é necessário ter boas histórias, novas conquistas, mesmo que não passem de invenções.
Você cria um mundo somente seu, vive de uma realidade fantasiada, e cada dia que passar, tenta convencer mais alguém que sua vida é real.
Você cai na contradição da verdade, diz que se fala, que se vive, e que tudo que tem é verídico, mas pratica a falsa hipocrisia.
Acreditam na sua versão, mas um dia você pode se contradizer.
Para criar uma história é preciso ter personagens participativos da sua mentira, suborne quem for preciso, ou se não quer que ninguém saiba, não faça.
Você caiu, caiu em contradição, partiu de um zero para menos, chegou no negativo do seu acreditar.
Viva somente o que for capaz de manter, sobreviva de verdadeiras convivências, e não passe adiante o que quer, o que pensa, o que acredita. Somente se o que quer seja palpável, o que acredita seja mensurável, e o que pensa seja provável.
Você, é qualquer um.... seja real, não invente uma realidade!!!

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O mundo está ao contrario e ninguém reparou???


Valores extinguidos da vida moderna me fazem falta... sou eu que estou fora do mundo? Ou o mundo que não me pertence?
Eu que me incomodo demais? Ou todos perderam o medo e estão se esquartejando em praça pública?
Meu sobrenome é careta, sou crucificada por não ser da turma, por não querer ir além, por não conhecer a loucura proposta por eles.
Eles que desconhecem a minha loucura, o riso verdadeiro, o arrepio de frio, todos os cinco sentidos perfeitamente sincronizados e com a possibilidade de ser mais feliz, pois não pago, não acaba e posso querer sempre!
Quero a estrada de volta para minha inocência e quero de volta minha paz, meu olhar sem Críticas, as pessoas que eram certas, com aparência de certas, as pessoas erradas, com estilos errados, podia apontar os que eram para ter medo, hoje convivo com eles sem saber.
Quero de volta a falta de informação, quero de volta o não ver das coisas! Tá tudo perdido, hoje os errados são os que certos estão, os certos são os que errados sempre estarão, quero a prática do dinheiro difícil, do trabalho honesto, das mãos calejadas, da noite fresca, olhar a lua, sentir o vento, simplesmente pelo sentir, pelo olhar, pelo viver.
Quero de volta o medo da morte, um amor seguro, a pausa, o respeito, quero de volta os pais ensinando o que fazer, quero escutar o não, quero ouvir a ordem, quero voltar o tempo em que aventura era matar aula escondido do pai, e da diretora, em que roubar era crime, e que furto era a mesma coisa, e tudo isso dava cadeia, queria poder saber quem são os drogados, que viviam loucos alucinados pelas ruas, e não faziam mal a ninguém, mas sabíamos quem eram.
Hoje não existe medo, os vizinhos são traficantes, sua prima mais nova vende sexo para comprar maquiagem, seu tio mais engravatado e certo, virou traficante, para sustentar a família, sem saber que a qualquer momento podem pegar seus filhos, perdeu-se o medo de perder a vida, de perder a quem amamos, a ganância vai além dos retratos de procura-se, somos estelionatário de nós mesmos.

sábado, 21 de agosto de 2010

Lara...


Segue pequena a vida enorme, segue cheia de sonhos e toca cada nuvem com ar

de brincadeira, sem saber que cada toque significa mais uma vivência

grande! Brinca em cada degrau, ensinando a gigantes formas educadas de

viver, joga as palavras sem filtro, isso as torna incrivelmente belas e

sonoras para meros adultos destoantes da infância.

Cada passo, cada gesto mostra a complexidade da vida, em simplicidade de sorriso cativante,

és minha bela amada, meu sonho infantil, que a cada dia cresce e desabrocha

uma bela genética de ensinamentos contínuos.

Esse amor que não cessa, esse amor que não finda, esse amor que tende a passar gerações de

outros amores, um dia vai me querer longe, no outro me odiar por ter

apontado um defeito, mas na manhã seguinte vai me pedir colo e eu com os

olhos brilhando irei te acariciar.

Me peça mais, e eu te darei, me chame e eu atenderei, me clame e eu serei sua, eternamente

sua! Meu grande amor, que em sua vida possa ser presente o tanto que

sempre quis você ao meu lado!

Esperei por imensos meses a sua presença, e mesmo quando não te tinha pertinho e em leves

toques, sentia você rodear no ventre de sua mãe, hoje escuto cada verso

seu, cada frase e afirmação sua como música e gravo para minha

eternidade.



PARA O HOJE E SEMPRE MEU AMOR!



quarta-feira, 7 de julho de 2010

Os heróis também podem sangrar

E sonhar....
por anos pensei em roubar uma capa vermelha e sair por ai, seguindo o rumo das nuvens e sonhos infantis que só eu como menininha pura e inocente buscava ao me deitar, pensava que heróis eram aqueles que tiravam os gatinhos das árvores e apagavam incêndios de prédios, que heróis eram aqueles que me faziam sonhar e idolatrar uma cena perfeita de ação terminada em final feliz.
Sonhos... incontáveis sonhos infantis, que se desmancham a cada dia de realidade brutal e sangria na terra do sol, desmistificações de desejos ocultos e vontades enuviadas de algodão, cortando a folhas de papel onde sempre descrevi com cores tudo que sonhei para mim ao me espelhar em heróis.
Ao acordar imagino como poderia ser se eles me salvassem a cada pedido de ajuda, e percebo que não é necessário a existência real de cada herói sonhado, mas sim a figura com qual sonhar e me espelhar, a verdadeira essência do herói, que pode ser eu, você....
Heróis são feitos de fantasias e sonhos, e quem não imagina, não vive, não transpira, não tem conteúdo.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

RESILIÊNCIA



Driblar obstáculos e indesejáveis humanos capazes de nos afundar em lamas sociais, juntar as peças, remontar, pegar todos os cacos caídos e fazer deles pedaços para um novo começo.
Juntar todos os restos e transformar como origami transforma uma folha de papel, criar soluções de um problema, brigar com fantasmas em baixo da cama, não por eles serem assustadores, mas por não saberem usar da força que tem de assustar o que devem.
Resiliência é lutar em um novo começo, mesmo que o fim tenha chegado, mas uma nova história, que o fim da ultima seja um início melhor para as próximas, e claro, que nunca chegue de fato a ultima, quem não tem motivos, não vive histórias e não cria um caminho.
A física diz como capacidade humana de superar tudo, eu digo como acordar de manhã e levantar mesmo sabendo que a cama é o melhor lugar do mundo!
O Equilibrio humano depende da força que temos com o esforço que fazemos, tudo é proporcional, e se inverte a proporção quando falamos do mundo, das lutas, dos dragões diários que matamos e que alimentamos.
É preciso reformular-se a cada segundo e sem ter medo de mudança, mudar o caminho, para que chegue a um novo recomeço.

permita-se ME sentir!


Ontem pedi para que você me desse a mão, para que apertasse forte e seguisse comigo, você riu e agradeceu, pedi para que me deixasse caminhar ao seu lado, para que me pusesse em retrato na cabeceira da cama, pedi para me guardar numa caixinha e só me deixar sair se for para ter seu beijo, você pediu licença e saiu.
Permita parar o tempo e aguardar um estalar de bocas, permita bloquear o mundo e sentir o toque de corpos que se encontram, permita SENTIR, permita-se!
Deixe que eu te guie por meu corpo, deixe que meus olhos te puxem para perto, deixe seu coração bater, permita que ele acelere quando toco em você, quero te amar sem medo de você correr!


sexta-feira, 18 de junho de 2010

C9H13NO3 (ADREnalinaaAAA)

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-EPINEFRINA-
CRONOTÓPICA POSITIVA
HIPERGLICEMIANTE
BRONCODILATAÇÃO
FREQUÊNCIA CARDÍACA
PRESSÃO ARTERIAL

Estimula o coração, aumenta os batimentos cardíacos, dilata os brônquios do pulmão.
Aula de Biologia?? Não!! apenas um pouco sobre ADRENALINA!

Sua presença no sangue é muito pequena, nos momentos de excitação, euforia, medo ou alegria, é lançado na corrente sanquinea grande quantidade de emoção preparando você para uma reação.

Algo indescritível... suor, calor, tremor.... contraem-se os músculos, fogem as palavras, surgem emoções não mensuráveis a olhos, apenas sensitivas a quem reside na ocasião.

Acarreta-se EXTASÊ, excitação dos sentidos, e entusiasmo emocional!

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Mistérios

Quero descobrir o caminho que me guia no topo do seu pensamento,
para que de lá em venha descendo cada pedacinho e tomando
conta de cada lugar que existe vago dele até seu coração!
Me deixa descobrir o que existe dentro de todo esse mistério que
te rodeia, e de toda essa carcaça de incógnitas que me deixam
atordoada. Quero poder querer, quero poder!
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A arte de Desapaixonar!

P.a.r.a.r d.e s.e.n.t.i.r.
Simples e nem um pouco complicado, assim como o grau de flexibilidade do rabo da tartaruga, nada complexo.
Mas vamos começar com um pequeno exercício de expulsar as coisas chatas que irritam a vida da gente, a começar por esse treco de amor e paixão e blá blá blás...
Tudo besteira, faz você perder tempo, perder sono, suar (quem gosta de suar??), é algo tão meloso e irritante que ninguem gosta de ficar ao lado quando você ama, então porque pode ser bom? não existe benefícios nisso, apenas maleficios.
Por isso crio uma arte, nada complexa, nem futurista, apenas realista, a arte de desapaixonar, é como se você despedisse dessa redoma de coisas mórbidas de namoros e rolos e começasse a ser somente VOCÊ!
Você se descobre algo tão individualista e cheio da razão, afinal não existe NINGUEM para te contestar, é tão bom ter uma ideia e simplesmente fazê-la sem que ninguem questione o porque da sua atitude!
Desapaixonar é algo incrivel depois que você já passou fase da foça, da auto-piedade, e também do quero me matar, fica lindo ser SOMENTE o que você sempre quis ser, e quando atinge esse grau de elevação espiritual (sim quase um ritual místico do universo cósmico), daí você percebe quanto tempo perdido se escondendo de quem você sempre quis ser, e se diverte com você mesma!! e é agora que está pronta pra outra... sabe porque???

O MUNDO É MUITO POVOADO COLEGAAAA!!! (Neh Flah??)

Vou agarrar o tempo.... para o tempo parar!!

E quando percebi que estava indo embora, que quis correr mais até seu alcance.
Quando percebi que poderia fugir, que quis buscar seus braços.
Quando vi que poderia não ter mais nada, que sintonizei o quanto que isso
poderia me fazer falta.
Quando percebi, já estava sentindo saudades.
Quando dei conta de tudo, já tinha você gravado feito agulha na pele.
Quando mais quis.... foi quando você disse estou indo!
O tempo mostra segundos que queremos eternamente,
mesmo que eternamente seja tempo demais.
Mas que seja eterno o momento que pausei para guardar.
Hoje sinto vontade de correr o mundo e dizer que quero estar na sua companhia,
queria poder te dar as mãos e sair por ai, sem medo, sem receios...
Apenas com o instante eu e você!
Foi mágico vigiar seus olhos com foco em mim, hoje sinto em pensamento
com lembranças, quero poder alçar vôos mais longos para acompanhar-te.
Quero ter a chance de mais.
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segunda-feira, 31 de maio de 2010

Ao infinito e além...

Já dizia um pequeno desenho animado... mas faz sentido...
Te peguei um dia deitada na grama olhando pro nada, era como se as forças haviam se acabado, e você buscava na terra energia para continuar a respirar!
Deitou e olhou pro céu feito criança quando busca desenhos, mas queria mais que ursinhos, queria respostas para as perguntas nem formuladas ainda!
Refletia em suas lentes o belo dia que estava raiando, mas nada fazia diferença nesse momento além de seus questionamentos, pensava e queria que tudo fosse diferente, mas o máximo que conseguia fazer, era olhar o além, e tentar não pensar...
Por mais que o tempo passar, o céu se apague e a lua chegue, o que você buscava não estava na terra... e sim longe daquele momento mas presente em pensamento!!
S2

sábado, 29 de maio de 2010

Correeee.. coreeee.!!! mas eu não saio do lugar!!

Vem explodindo, contagiando cada pedacinho do espaço reservado a esse evento, veias, pulso, neurônios, vem seguindo feito carro de formula um corrennnnndddoooo enlouquecidamente numa pista, corre corre escuto dizer pra mim, saia...

meu pés ficam batendo em todos os lugares, e minhas mãos não param, como um rompante de excesso de cocaína, mas chega a ser incontrolável essa aceleração, essa vontade de correr, me tira daqui vai... deixa me libertar desse pânico interno e vontade de gritar mas não poder, porém estou travada pelas horas e baterias que guiam esses tempos modernos, mas quero fugir a mim e a minha cabeça de paranóia delirante....



me tira daqui, me deixa correr, e me faz fugir desse rompante de ansiedade!!

Sigo contando histórias


Sempre assim, cada convivência que temos adquirimos direto de escrever uma página na história do outro, é como se comprássemos direitos autorais sobre um pedaço de um livro. Se falta pessoas faltam histórias, faltam os erros e as decepções, mas faltam também os acertos e as alegrias! Tudo que temos é o resultado do que vivemos com a soma das pessoas que por nós passam.

O medo impedo de escrevermos histórias e trava a capacidade de se aventurar em ideias mesmo que lógicas ou quem sabe insanas, o medo é a embalagem que gardamos e utilizamos para não mostrarmos quem realmente somos dentro do envolto de plástico, ninguém se abre para o mundo e mostra o que guarda dentro do pacote aparência.

A capacidade de fingir ser outra coisa mais além fala mais forte do que a vontade de querer realizar os desejos que temos, que sempre surge na hora mais inapropriada e no local mais atípico, por isso eles aparecem... são vontades de se mostrar livre ao desejo de todos que estão ao seu lado fazendo cara de interessante e sacudindo a cabeça como concordando com tudo, mas parecendo lagartixas com fome.

Os desejos devem ser respeitados e direcionados para que possam ser realizados, nada que uma boa conversa com você não resolva e não surja um acordo sobre onde e quando, mas a vontade não pode passar, ser livre e seguir o que tem desejo vai muito além de voar de asa delta, vai além da queda livre, a vontade realizada é explosão de alegria com adrenalina e sorrisos e muitos hormônios, é como se fosse a mistura mais alucinada das drogas, porém sem o fator de ser fatal, porém viciante!!

terça-feira, 2 de março de 2010

Lentes


Vivem atrás de lentes, aqueles que se escondem do mundo, vivem atrás de lentes, aqueles que por um lugar ao escuro, se escondem deles mesmos.
Fugimos de nós mesmos quando a nossa percepção do que somos nos assusta, e por medo de ser o que temos vontade, nos escondemos atrás de lentes.
Não olhe nos olhos se não quer encontrar a verdade, busque entre lentes e verá que podemos esconder até mesmo a mais profunda lembrança do que somos, e hoje nos escondemos para sermos o que temos.
Enconderijo nada mais é do medo da verdade. Medo é receio de ser livre.
Vivemos nos escondendo atrás de lentes, existe a vergonha de ser aquilo que é de verdade.
Existe o medo de ser livre.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Diz mais que mil palavras...


O instinto diz mais, age mais... e DOMINA!
Não há quem prove o contrário...

...WE ARE ANIMAL...


Vamos de... Álvaro de Campos! ou melhor... FERNANDO PESSOA!

TABACARIA
Não sou nada.Nunca serei nada.Não posso querer ser nada.À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é(E se soubessem quem é, o que saberiam?),Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,E não tivesse mais irmandade com as coisasSenão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da ruaA fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitadaDe dentro da minha cabeça,E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.Estou hoje dividido entre a lealdade que devoÀ Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.A aprendizagem que me deram,Desci dela pela janela das traseiras da casa.Fui até ao campo com grandes propósitos.Mas lá encontrei só ervas e árvores,E quando havia gente era igual à outra.Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!Gênio? Neste momentoCem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,E a história não marcará, quem sabe?, nem um,Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.Não, não creio em mim.Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?Não, nem em mim...Em quantas mansardas e não-mansardas do mundoNão estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,E quem sabe se realizáveis,Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?O mundo é para quem nasce para o conquistarE não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,Ainda que não more nela;Serei sempre o que não nasceu para isso;Serei sempre só o que tinha qualidades;Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,E ouviu a voz de Deus num poço tapado.Crer em mim? Não, nem em nada.Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardenteO seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.Escravos cardíacos das estrelas,Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;Mas acordamos e ele é opaco,Levantamo-nos e ele é alheio,Saímos de casa e ele é a terra inteira,Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena;Come chocolates!Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.Come, pequena suja, come!Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca sereiA caligrafia rápida destes versos,Pórtico partido para o Impossível.Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,Nobre ao menos no gesto largo com que atiroA roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,E fico em casa sem camisa.
(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!Meu coração é um balde despejado.Como os que invocam espíritos invocam espíritos invocoA mim mesmo e não encontro nada.Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,Vejo os cães que também existem,E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei e até cri,E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o raboE que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não soubeE o que podia fazer de mim não o fiz.O dominó que vesti era errado.Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.Quando quis tirar a máscara,Estava pegada à cara.Quando a tirei e me vi ao espelho,Já tinha envelhecido.Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.Deitei fora a máscara e dormi no vestiárioComo um cão tolerado pela gerênciaPor ser inofensivoE vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,Calcando aos pés a consciência de estar existindo,Como um tapete em que um bêbado tropeçaOu um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltadaE com o desconforto da alma mal-entendendo.Ele morrerá e eu morrerei.Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,E a língua em que foram escritos os versos.Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como genteContinuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,Sempre uma coisa tão inútil como a outra,Sempre o impossível tão estúpido como o real,Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.Semiergo-me enérgico, convencido, humano,E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-losE saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.Sigo o fumo como uma rota própria,E gozo, num momento sensitivo e competente,A libertação de todas as especulaçõesE a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeiraE continuo fumando.Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeiraTalvez fosse feliz.)Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universoReconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.
Álvaro de Campos, 15-1-1928